20121030

Om - Advaitic Songs
Drag City
.2012

01 - Addis
02 - State of Non-Return
03 - Gethsemane
04 - Sinai
05 - Haqq Al-Yaqin
 
Se o álbum “God Is Good” começou a mostrar uma coesão musical muito mais forte e uma direcção estética com estruturas mais objectivas, em detrimento de uma excentricidade experimental – muito devido à entrada de Emil Amos, vindo dos Grails para a bateria dos Om –, esse processo só ficou plenificado agora no segundo álbum que Amos faz com a banda.

Aqui Al Cisneros parece surgir muito mais entrosado com a espiritualidade rítmica do antigo baterista dos Grails em vez de ter as suas composições coladas à nostalgia do trabalho com o seu antigo parceiro dos Sleep, Chris Hakius. Se este era também um excelente baterista, a verdade é que Amos parece mais contextualizado, pela sua própria herança musical, dentro dos mantras de repetição dos Om. Pois se Hakius sempre foi um portento de solidez rítmica, essa derivava para a ortodoxia do doom, enquanto Amos consegue manter as progressões de repetição com uma maior dinâmica e com crescendos de elementos percussivos.

Não deixa de ser lamentável que muitos ouvintes de música acabem por deixar passar a oportunidade de ouvir este álbum dos Om, como sucede com tantos outros na mesma latitude, pelo preconceito em relação a termos como doom, sludge, stoner ou metal. Quando na verdade, o local onde mais tem sido venerado o culto psicadélico e experimental dos anos dourados do rock, os anos 70, é precisamente a partir dos géneros supra citados. E aqui muito do mérito é do pilar central da banda, o baixo de Cisneros – que é como um mandala sonoro a congregar a hermenêutica musical da banda.

Outro factor de solidez a conquistar excentricidade é o maior envolvimento de Aubrey Lowe no desenvolvimento sonoro do álbum – os apontamentos com instrumentos como o violoncelo, a tambura e o preenchimento harmónico da sintetização é muito mais direcionado e muito mais presente nas estruturas musicais. A banda poderá ter demorado 4 álbuns a consolidar-se musicalmente, mas essa espera valeu cada um dos trabalhos anteriores, agora congregados em "Advaitic Songs". No final este é um disco tão acessível quanto impenetrável.

Guerra do Anel, Genesis e sereias...



cada pessoa deve assumir um compromisso democrático, o trabalho que supõe, e assumir a sua voz política. e não digo política nessa perspectiva partidária, mas no sentido original da palavra, derivado do termo grego para cidade. ou seja, ter voz entre os iguais. essa é a base duma existência comum entre todos. digo que é trabalhoso precisamente porque, para haver voz entre iguais, há a necessidade de igualdade. portanto, a pessoa não pode ser displicente no investimento em si própria, deve procurar seriamente ter uma educação sólida e pilares éticos e morais inabaláveis.

só partindo dessas bases de desenvolvimento conseguirá o mais importante – respeitar o próximo, o outro que o ouve e que também lhe irá falar, que poderá ou não concordar consigo. é essa a importância de expressar publicamente as nossas ideias, é algo que permite que nos revelemos entre iguais e que esses outros se revelem a nós. numa sociedade dissimulada não haveria qualquer comunidade, não haveria uma realidade política interligada, a própria democracia seria um conceito vazio, pois os interesses que defende seriam desajustados a cada um. a raíz dos males sociais estará nessa dissimulação, da menos à mais grave, pois agindo politicamente invisível o indivíduo pode prejudicar aqueles que o rodeiam em seu benefício próprio [o Anel, que o professor Tolkien criou, representa isso perfeitamente].


obviamente que isso não permite à sociedade funcionar dum modo saudável. se pensarmos nisto como uma esfera, numa democracia é necessário que os mecanismos políticos funcionem do centro até à periferia, cada indivíduo cuidará da sua casa e dar-se-á a conhecer à cidade (polis) através das suas ideias, aí entrarão em diálogo e surgirão conceitos de sociedade e comunidade donde surgirão necessidades e reivindicações que podem então ser apresentadas e resolvidas numa escala maior. se cada um pensar e preocupar-se exclusivamente consigo será apenas um pequeno passo até ao falhanço político, a anarquia. uma espécie de darwinismo social, onde cada um é por si e o mais forte prevalece.

por ser uma realidade, a corrupção político-partidária cria os dois focos de guerra. mas se Mordor não pode possuir o Anel para o usar na batalha, então os decadentes e auto-proclamados paladinos da ordem social, leia-se PC/BE... perdão, Gondor... também não.
parece claro que Tolkien deixava intuído que a fonte da corrupção é civilizacional, afinal é nas forjas de fogo e de ferro que o Anel é fabricado. o professor optou pela visão de uma vida campestre, simples e idílica, a triunfar sobre as crescentes desenvolturas do "progresso". o ser humano é mais pleno dando-se satisfeito pelos prazeres simples da vida: família, amizade, boa cerveja e boa erva. conceitos que tragicamente menosprezamos.

no final não somos apenas adamah. através de hawwah sucumbimos à ambição... em cada sereia há mil tentáculos ocultos.