20050214

a carta

um pensamento que me ocorre muitas vezes é o facto de que, de um modo geral, as pessoas não sabem ou não conseguem vislumbrar a Divina Providência na sua vida. vivemos em sociedades sensacionalistas, nas quais a publicidade mais excêntrica é a que causa maior impacto, assim, isto reflecte-se na fé, a qual vivemos à espera dum milagre à escala bíblica

parece-me que, e talvez seja normal isso suceder, a maior parte das vezes pretendemos uma salvação à nossa medida e de acordo com as nossas pretensões em vez de aceitarmos a Graça tal como ela é.
esta anedota ilustra isso:

o sr.antónio estava a passar por um período de muitas dificuldades financeiras, então resolveu escrever uma carta Deus, a qual selou e depositou num marco dos correios.
no posto de correios, na altura de separar as cartas, um funcionário achou estranho e resolveu mostrar a carta aos seus colegas, pois no destinatário dizia: "para o Senhor Deus". ficaram todos cheios de curiosidade e resolveram abrir a carta, que tinha escrito: "meu Deus estou com problemas financeiros e peço-te que me envies 250€ para pagar as minhas dívidas. assinado: antónio (católico praticante)".
os funcionários dos correios ficaram sensibilizados e resolveram fazer uma vaquinha para ajudar o sr.antónio.
conseguiram juntar 200€ que colocaram num envelope e enviaram para o sr.antónio. este, passado três dias, escreveu nova carta a Deus; mais uma vez os funcionários dos correios estranharam e abriram a carta que dizia: "Senhor Deus, agradeço-te imenso o dinheiro, mas peço-te que mo entregues pessoalmente da próxima vez, pois os funcionários dos correios devem ter ficado com 50€..."

20050213

pincelando sobre heidegger

surgiu-me a preocupação da leviandade patenteada na abordagem ao sentido do Homem

a busca de Deus não pode ser preparada de forma abrupta, feita de clichés ou lugares comuns e absolutamente impossível de ser feita de ânimo leve - não é fácil o caminho para a verdade

o homem não pode ser continuamente colocado no centro do encontro interior, pois, como diria heidegger, o homem não é senão o vizinho do ser; o encontro de ambos os vizinhos deve ser o meu primeiro objectivo, pois é esse encontro o próprio caminho que me leva à verdade, que me leva a Deus; não posso ter a pretensão de chegar ao fim da viagem, antes de a ter iniciado sequer, ainda que tenha mapas que me mostrem onde está o meu destino, só chegarei aí depois de ter feito o caminho, os mapas por si só não me levam a lugar nenhum.

para juntar os vizinhos, preciso enquanto homem encontrar o meu ser, e depois conseguir que ambos coabitem harmoniosamente na mesma casa pois, para saber construir, é preciso saber habitar.

para encontrar o ser, pegando no mito grego de Teseu e o Minotauro, preciso tal como o herói de Atenas chegar ao centro do labirinto e então, estando este atingido, voltar ao ponto de retorno – ao alfa e ao omega, o princípio e o fim; obviamente não posso ter a ousadia de julgar que quebrando o fio de Ariadne que me liga à porta do labirinto possa eventualmente sair deste, o mesmo se passa na relação com Deus.

a ideia de que se pode tornar fácil o caminho para a verdade, o caminho para Deus é “banha de cobra” e ainda por cima barata; existe sim o grande presente que Cristo nos dá na Ressurreição – a esperança, mas antes da glória, o calvário.

não é portanto um caminho fácil essa descoberta do ser (matéria quiçá divina/etérea) em direcção à divindade ou santidade, se preferirem, e principalmente não pode ser uma busca feita ao sabor do vento, ou, sem eufemismos, ao sabor de modas espirituais, de confortos lógicos e racionais; na busca do sentido existencial o que hoje é verdade amanhã não pode ser mentira, doutra forma seríamos todos como loucos desprovidos de sentido correndo para “nenhures”.

fôlego

tudo se inicia com o primeiro momento...ou será com o último?
a fusão entre o alfa e o omega é indistinta