Mara e Buda
“[...] Mara, porém, sabendo que ali estava o Buda, enviou ordens a todas as potestades do mal para o tentarem, fazendo-o desistir de salvar a humanidade. Então saíram das profundezas dos abismos e se reuniram todos os demónios inimigos da Sabedoria e da Luz. [...] trouxeram todas as suas tramas de paixões, horrores, ignorância e concupiscência, auxiliados por engenhosos inventos e formas das trevas para iludir os homens, com o intuito de conturbar Buda.
[...] Utilizando belos estratagemas fizeram aparecer por entre as folhagens belas feiticeiras entoando cânticos maravilhosos e envolventes. Algumas vezes tentavam-no oferecendo-lhe poder, outras apresentavam-lhe dúvidas sobre a Verdade como se ela fosse ilusão.
Chegaram então os anjos do mal e seus pecados capitais. Primeiro Attavada, com o pecado do egoismo, cuja finalidade é fazer com que as pessoas se deleitem contemplando a sua própria imagem refletida no universo como se fosse um espelho, quem acreditamos ser o centro do Universo. Disse ele: se és o Iluminado, permite que os demais andem nas trevas. Basta que sejas o único. Levanta-te e aproveita a felicidade dos deuses, que jamais sofrem mudança, nem na derrota nem na luta.
Buda disse-lhe: a justiça em ti é menosprezável e a injustiça uma maldição. Vai enganar aqueles que se amam a si mesmo. Os egoístas.
A seguir veio a dúvida, muito pálida e insegura, dizendo: todas as coisas são ilusões e vã é a ciência da tua vaidade. Só buscas a própria sombra. Levanta-te e abandona esse lugar. Não existe maior recurso que um desdém paciente, e não há nenhum remédio para o homem, incapaz de bater a sempre girante roda da vida.
Buda respondeu: nada tens a ver comigo, insidiosa dúvida, mesmo sendo o mais astuto inimigo dos homens.
Em terceiro lugar veio a superstição, a feiticeira que se encobre sob o manto da modesta fé, mas engana constantemente as almas com falsos cerimoniais, palavras e orações, dizendo ter nas suas mãos as chaves que abrem as portas do céu.
Disse-lhe a superstição: Trancafias os nossos livros sagrados, destróis os nossos deuses, despovoas os templos e revogas a lei sustenta os reis e que os sacerdotes guardam.
Buda respondeu-lhe: pede que eu destrua a forma transitória, porém, a Verdade permanece livre e é eterna. Volta às tuas trevas.”
Satanás e Jesus
Lc 4, 1-13
“Jesus, pleno de Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias, e tentado pelo diabo. Nada comeu nesses dias e, passado esse tempo, teve fome. Disse-lhe, então, o diabo: «Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão». Replicou-lhe Jesus: «Está escrito: Não só de pão vive o homem».
O diabo, levando-o para mais alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos da terra e disse-lhe: «Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem eu quiser. Por isso se te prostrares diante de mim, toda ela será tua». Replicou-lhe Jesus: «Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto».
Conduziu-o depois a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, para que te guardem. E ainda: E eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra». Mas Jesus respondeu-lhe: «Foi dito: Não tentarás ao Senhor, teu Deus». Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo oportuno.”
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