como o nome sugere, Gigolo Joe é um robot construído e programado para ser um perfeito amante (leia-se objecto sexual), serve somente para satisfazer impulsos descontrolados de uma humanidade doente, constituída por indíviduos centrados em si mesmo, submissos aos seus próprios desejos; é deveras assustadora tal analogia, na qual reconhecemos a decadência de valores como o respeito próprio e para com o outro, não numa perspectiva de moral sexual, mas na pouca valorização que se dá ao outro, na volatilidade com que se entra e sai de relações nunca enfrentando a exigência do esforço de assumir a alteridade.
vemos na construção desta categoria de Meca a indignante descartibilidade das relações humanas, indivíduos que descartam quem os rodeia quando estes já não lhes servem ou exigem retribuição. vemos representada todo uma cultura de minimalização do amor, da sexualidade como exaltação individual em vez de ser uma forma de encontro ou união, de assumir a intimidade própria e do outro. anulando esse encontro, a sexualidade entre dois indivíduos torna-se na mera masturbação interactiva na qual o personagem é exímio, o sedutor qual Circe homérica canta um feitiço de atracção ao cliente hesitante “you deserve much, much better in your life; you deserve me!” e acaba por transformar os que lhe sucumbem em bestas movidas apenas por desejo.
mas a interpretação do seu papel na história não pode ser reduzida à representação dum perfeito objecto sexual, ilustrador duma sociedade decadente, mas antes ter em atenção que representa uma baixa classe social vítima de abuso por parte das classes superiores e com menos condições para uma emancipação a um nível ético, aliás, devido à sua “programação” esse crescimento não é sequer esperado.
é precisamente neste aspecto que está a verdadeira importância de tal personagem, pois ele consegue ultrapassar todas as restrinções e transcender-se pela capacidade de decisão. ao afirmar a alteridade do próximo, decidindo-se a ajudar o pequeno David, Gigolo Joe torna-se a caridade autêntica, ele é o único amigo de David em todo o filme – é o único que age desinteressadamente com este.
apesar de característicamente possuir mais condicionamentos que David, que é duma classe superior ou mais evoluída, Joe é a imagem de que nenhum homem é menos homem, que cada um pode a qualquer momento fazer um movimento de introspecção que lhe permita descobrir a sua consciência e a sua capacidade de, perante a possibilidade de não fazer bem ou a de fazer bem, escolher a última por descobrir que é isso que importa – ainda que envolvido num problema grave, procurado por um crime que não cometeu, Joe não hesita em ajudar a criança e esquecer-se de si mesmo.
tais paralelismos parecem conduzir a uma dedução próxima dos ensinamentos do cristianismo; por não pensar em si e em salvar a sua vida, ele não se preocupa em arriscar-se para ajudar David, assim consegue transcender-se usando como amplificador David; não há egoísmo nas suas acções, num mundo em que toda a gente tentou extrair qualquer coisa do pequeno Meca (até o programa informativo, ilustrado por um cartoon de Einstein exige dinheiro em troca de conhecimento) ele apenas procura ajudá-lo; a sua exposição ao programa mais evoluído afecta-o positivamente, transforma-o sem que se aperceba.
por exemplo, o humanismo de amor e aceitação do outro ensinado por Jesus Cristo, se aproveitado como modelo comportamental impulsionaria o homem para um patamar superior de felicidade e sentido de vida. se a partir daí criasse o homem a sua máxima universal, como pedia Kant, em qualquer situação, em cada escolha que se lhe deparasse conseguiria agir eticamente, o impacto que a polis sofreria aproximá-la-ia da cidade de Deus agostiniana.
vemos na construção desta categoria de Meca a indignante descartibilidade das relações humanas, indivíduos que descartam quem os rodeia quando estes já não lhes servem ou exigem retribuição. vemos representada todo uma cultura de minimalização do amor, da sexualidade como exaltação individual em vez de ser uma forma de encontro ou união, de assumir a intimidade própria e do outro. anulando esse encontro, a sexualidade entre dois indivíduos torna-se na mera masturbação interactiva na qual o personagem é exímio, o sedutor qual Circe homérica canta um feitiço de atracção ao cliente hesitante “you deserve much, much better in your life; you deserve me!” e acaba por transformar os que lhe sucumbem em bestas movidas apenas por desejo.
mas a interpretação do seu papel na história não pode ser reduzida à representação dum perfeito objecto sexual, ilustrador duma sociedade decadente, mas antes ter em atenção que representa uma baixa classe social vítima de abuso por parte das classes superiores e com menos condições para uma emancipação a um nível ético, aliás, devido à sua “programação” esse crescimento não é sequer esperado.
é precisamente neste aspecto que está a verdadeira importância de tal personagem, pois ele consegue ultrapassar todas as restrinções e transcender-se pela capacidade de decisão. ao afirmar a alteridade do próximo, decidindo-se a ajudar o pequeno David, Gigolo Joe torna-se a caridade autêntica, ele é o único amigo de David em todo o filme – é o único que age desinteressadamente com este.
apesar de característicamente possuir mais condicionamentos que David, que é duma classe superior ou mais evoluída, Joe é a imagem de que nenhum homem é menos homem, que cada um pode a qualquer momento fazer um movimento de introspecção que lhe permita descobrir a sua consciência e a sua capacidade de, perante a possibilidade de não fazer bem ou a de fazer bem, escolher a última por descobrir que é isso que importa – ainda que envolvido num problema grave, procurado por um crime que não cometeu, Joe não hesita em ajudar a criança e esquecer-se de si mesmo.
tais paralelismos parecem conduzir a uma dedução próxima dos ensinamentos do cristianismo; por não pensar em si e em salvar a sua vida, ele não se preocupa em arriscar-se para ajudar David, assim consegue transcender-se usando como amplificador David; não há egoísmo nas suas acções, num mundo em que toda a gente tentou extrair qualquer coisa do pequeno Meca (até o programa informativo, ilustrado por um cartoon de Einstein exige dinheiro em troca de conhecimento) ele apenas procura ajudá-lo; a sua exposição ao programa mais evoluído afecta-o positivamente, transforma-o sem que se aperceba.
por exemplo, o humanismo de amor e aceitação do outro ensinado por Jesus Cristo, se aproveitado como modelo comportamental impulsionaria o homem para um patamar superior de felicidade e sentido de vida. se a partir daí criasse o homem a sua máxima universal, como pedia Kant, em qualquer situação, em cada escolha que se lhe deparasse conseguiria agir eticamente, o impacto que a polis sofreria aproximá-la-ia da cidade de Deus agostiniana.
o insuspeito Gigolo Joe é quem simboliza que isso está ao alcance de todos.
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