20121030

Guerra do Anel, Genesis e sereias...



cada pessoa deve assumir um compromisso democrático, o trabalho que supõe, e assumir a sua voz política. e não digo política nessa perspectiva partidária, mas no sentido original da palavra, derivado do termo grego para cidade. ou seja, ter voz entre os iguais. essa é a base duma existência comum entre todos. digo que é trabalhoso precisamente porque, para haver voz entre iguais, há a necessidade de igualdade. portanto, a pessoa não pode ser displicente no investimento em si própria, deve procurar seriamente ter uma educação sólida e pilares éticos e morais inabaláveis.

só partindo dessas bases de desenvolvimento conseguirá o mais importante – respeitar o próximo, o outro que o ouve e que também lhe irá falar, que poderá ou não concordar consigo. é essa a importância de expressar publicamente as nossas ideias, é algo que permite que nos revelemos entre iguais e que esses outros se revelem a nós. numa sociedade dissimulada não haveria qualquer comunidade, não haveria uma realidade política interligada, a própria democracia seria um conceito vazio, pois os interesses que defende seriam desajustados a cada um. a raíz dos males sociais estará nessa dissimulação, da menos à mais grave, pois agindo politicamente invisível o indivíduo pode prejudicar aqueles que o rodeiam em seu benefício próprio [o Anel, que o professor Tolkien criou, representa isso perfeitamente].


obviamente que isso não permite à sociedade funcionar dum modo saudável. se pensarmos nisto como uma esfera, numa democracia é necessário que os mecanismos políticos funcionem do centro até à periferia, cada indivíduo cuidará da sua casa e dar-se-á a conhecer à cidade (polis) através das suas ideias, aí entrarão em diálogo e surgirão conceitos de sociedade e comunidade donde surgirão necessidades e reivindicações que podem então ser apresentadas e resolvidas numa escala maior. se cada um pensar e preocupar-se exclusivamente consigo será apenas um pequeno passo até ao falhanço político, a anarquia. uma espécie de darwinismo social, onde cada um é por si e o mais forte prevalece.

por ser uma realidade, a corrupção político-partidária cria os dois focos de guerra. mas se Mordor não pode possuir o Anel para o usar na batalha, então os decadentes e auto-proclamados paladinos da ordem social, leia-se PC/BE... perdão, Gondor... também não.
parece claro que Tolkien deixava intuído que a fonte da corrupção é civilizacional, afinal é nas forjas de fogo e de ferro que o Anel é fabricado. o professor optou pela visão de uma vida campestre, simples e idílica, a triunfar sobre as crescentes desenvolturas do "progresso". o ser humano é mais pleno dando-se satisfeito pelos prazeres simples da vida: família, amizade, boa cerveja e boa erva. conceitos que tragicamente menosprezamos.

no final não somos apenas adamah. através de hawwah sucumbimos à ambição... em cada sereia há mil tentáculos ocultos.