em João Duns Escoto começa uma mudança gnoseológica, há um abandono da tese agostiniana da iluminação divino-natural [que daria origem aos conceitos universais independentemente da experiência] estabelecendo a origem do pensamento universal na experiência, através dum processo de abstração, admitindo portanto o racionalismo mais moderado de Aristóteles. mas, ao mesmo tempo, contra Aristóteles [e, porque não, também contra o tomismo], estabeleceu Escoto a compreensibilidade directa da singularidade - a ciência não opera apenas com os universais, mas com o aqui e agora.
consequentemente, em razão da inteligibilidade do real singular, o ser pode também ser concebido como noção unívoca. para Aristóteles e Tomás de Aquino o ser é uma essência universal, que se realiza nas unidades por predicação analógica, e por isso acontece a seu modo em cada indivíduo. ao contrário, no escotismo, cada indivíduo é pleno ser - é unívoco em cada indivíduo [este ser unívoco é possuidor de distinções formais, entre as quais a estaidade (haecceitas), que lhe permitem estabelecer-se como indivíduo], e equívoco em relação aos demais seres individuais; o ser individual é o último patamar do ente, última actualidade a que pode chegar a substância que contém em si parte da substância metafísica.
é pelo conhecimento intuitivo [como um acto de fé] ou abstractivo que se consegue um vislumbre de Deus, embora seja também um conhecimento complexo. através desse conhecimento do imaterial na criação material chega-se à analogia da existência de um Ser Infinito, aqui há uma proximidade a vários conceitos e autores; as cinco vias do pensamento de S. Tomás de Aquino, o motor imóvel aristotélico ou até mesmo Sto. Anselmo e o argumento endonoético ou ontológico. «O Universo formado pelo conjunto dos seres infinitos, contingentes na sua existência e predeterminados nas suas operações, e pelos homens, contingentes na sua existência, mas livres no seu agir, é um Universo contingente, mutável, temporal. Tudo indica que foi produzido, não pelo nada absoluto nem por si mesmo, mas por um Ser absolutamente Primeiro, incausável por natureza e causa incondicional de tudo. Assim constituído, o Universo dos seres finitos induz ao reconhecimento da existência de Deus, entendido não como um ser impessoal, mas como o Ser Infinito, Inteligente e Livre, que encerra em Si mesmo a plenitude das perfeições com que generosamente dotou todas as criaturas.» (2)
_______________________________
(1) Freitas, Manuel Barbosa da Costa, “O conhecimento filosófico de Deus segundo J. Duns Escoto”, in Didaskalia XII (1982) pp. 246
No comments:
Post a Comment